ABRIL/2015 – Joel Fernandes é Médium e Filósofo
“Eu uso um talismã!”, disse-me ela, cheia de um orgulho alegre, depositando no pequenino objeto que portava, em seu pulso esquerdo, todas as suas crenças nas prometidas esperanças da curiosa fitinha colorida. E fiquei a pensar – grata e preferida atividade dos filosofantes não disparatados –: “ela transferiu o uso livre da sua vontade, absolutamente livre, para este enlace talismânico, acreditando estar se relacionando com forças mágicas, sobrenaturais, ou transcendentais, capazes de lhe proteger de todos os males!”. E, logo a seguir, concluí: “ela acredita haver feito um pacto, não obstante inexistir qualquer enlace individual nesse tipo de coisa, e o exibe, social e religiosamente, como se fosse um distintivo policial a identificá-la e auxiliá-la!”.
Qualquer talismã, seja ele um “santinho” ou “santinha”, um crucifixo, um escapulário, um anel ou um bracelete ou um colar, uma tiara, uma veste paramentada ou, até mesmo, um cajado ou uma estátua dourada, uma vela, um canto litúrgico, uma bênção, etc., mostra as crenças da pessoa quem o porta. Mas, e é ainda o pensador: uma pemba, uma pulseira ou um colar de conchinhas ou de contas, tem mesmo algum valor moral-espiritual? Será que a grandeza daquela dignidade humana, em vez de ser medida pelo seu caráter integérrimo, passou a poder, agora, ser metrificada pelos berloques dependurados às suas vestimentas? E eu continuava: “o que sempre valeu mais: a aparência ou a essência; a casca ou o conteúdo; o parecer ou o ser?”, para logo em seguida finalizar: “ora, se tais xurumbambos possuíssem esses valores, então o pensamento ou a foto do objeto teriam validade maior que o próprio objeto!”. Não é admirável? Sim, é; porém, justamente por ser tão “admirável”, não deixa de significar que estamos a mirar um absurdo, pois, a foto do ser amado acabou de ganhar um valor excepcional: o de ser superior, por valer mais, do que o original.
Pode a fantasia superar seu protagonista? Não, é óbvio. Então, se é “óbvio”, por que continuamos a usar tais amuletos como figas, medalhas, e figurinhas, desde a mais alta Antiguidade? Para recebermos as bênçãos dum “corpo fechado a quaisquer malefícios?”. Seria então o caso de, seriamente, questionarmos: qual o tamanho da sua fé? E inferimos, logicamente: o tamanho que lhe dou, ou seja, o tamanho do que penso acerca deste talismã!
Esse mesmo tipo de pensamento-crendice popular, absurdo e ridículo, continua vivo e se espalhando, como: não passar debaixo de escada; hotéis sem o 13º andar; apartamentos sem o número 13; pular 3 ondinhas no início de cada ano – e, conforme ao “bom senso”, com roupas brancas –; entrar sempre com o pé direito; etc. Pactos via talismãs? Ora, carregamo-los conosco em cada instante por nos alimentarmos das crenças neles depositadas!
Entretanto o Espiritismo, em seu livro basilar, o “O Livro dos Espíritos”, estudou tal assunto nas questões 549 a 557, apresentadas aos Espíritos superiores, ao que estes responderam – aqui num resumo – a Allan Kardec: “nada de verdade existe nos pactos, mas há naturezas más que simpatizam com os maus espíritos quando desejam realizar algo de mau aos seus semelhantes; chamam-nos pelas suas malévolas inclinações. Pactos e talismãs? Apenas para o mal, não existindo para a exclusividade do bem. Rebela-se contra a Providência quem pede riquezas, pois suas provas não eram estas e, consequentemente, isso implicar-lhe-á em responsabilidade moral. Pretensos poderes mágicos apenas existem nas imaginações das criaturas supersticiosas, ou ignorantes das verdadeiras leis da natureza. Todas essas fórmulas são meras charlatanarias. Nenhuma palavra ou talismã têm ação sobre os Espíritos, apenas os pensamentos atraem-nos, não as coisas materiais desejadas. Mas se ocorrer algo assim, que fiquemos certos: são pelos Espíritos escarnecedores dessas credulidades, denunciadores das inferioridades e fraquezas das ideias favorecedoras de Espíritos zombeteiros, pois os há. Só o conhecimento lúcido do magnetismo humano e do Espiritismo poderão exibir-nos as realidades dessas duas ciências por atuarem diretamente nas causas, eis o melhor preservativo contra tais presságios atemorizantes e ridículos. E mais: jamais as bênção e maldição poderão fazer desviar a justiça divina que nunca fere o maldito, senão quando mau, e cuja proteção somente acoberta o merecedor”.
Pactos e talismãs? Ora, encerramos logo: faça-os com Deus.