SATIAGRAHA

MARÇO/2015 – Joel Fernandes é Médium e Filósofo

     Não pouco fala-se nela, principalmente depois que a não-violência ativa – ou a “satiagraha”, ou a força da verdade, estabelecida por Ghandi (1.869-1.948), desde 1.906 – atuou contra os ingleses, na década de 1.920, e propiciou a emancipação da nação indiana sem nenhum tiro, com zero agressão. Aquela foi uma vitória gloriosa, porque raríssima, do bem contra o mal: fez-lhe face e superou-o. 

  “Satiagraha” não se trata dum belicismo por proclamar exatamente o seu contrário: “não me armarei, sou da paz, pois acredito na força da paz, infinitamente superior à paz da força”. A não-violência ativa sempre se manifesta de forma opositiva ao poder orgulhoso, egoísta, e vaidoso, por se tornar, e imediatamente, no amor defronte ao ódio, não obstante não  agir odiosamente. 

     Mas donde procede tal vigor capaz de fazer vergar a soberba Inglaterra, dona da Índia, por conquista, desde 1.849? Cumpre-nos relatar haver sido Mahatma Ghandi – a Grande Alma –, em sua ascensional espiritualidade, leitor assíduo de Jesus-Cristo, este sim, considerado o “Príncipe da Paz”por jamais haver promovido qualquer mínima hostilidade, mesmo quando provocado e sob o peso do governo romano, ao desequilíbrio da concórdia. Mohandas afirmou que “se todos os livros sagrados da humanidade se perdessem, mas não ‘O Sermão da Montanha’, nada teria se perdido”.
Trago em mim a certeza indômita de que, num mundo sem perturbações, inúmeras atividades profissionais deixarão, necessariamente, de existir: médicos e farmacêuticos; advogados e juízes; policiais e delegados; armamentistas e armeiros; bancos e clientes; militares e inimigos; etc., mas, por falta de educação ética e por estar cem por cento desacostumado a pensar nesse nível, aliás, nem tão elevado assim, o homem será bem capaz de estranhar, perguntando-se: “como viverei num mundo assim?”. Ora, sem dúvida será um mundo de trabalho, de conhecimento pelo estudo continuado, de amizade fraternal entre todos os povos – talvez sem fronteiras a separá-los –, do cultivo da saúde visando a longevidade, de honestidade, e de muita alegria-felicidade.

     Um sonho? Não, evidentemente, mas, ao invés, uma certeza porvindoura. Desprovidas dos estresses, nossas máquinas orgânicas ver-se-iam livres das causas de suas desorganizações e não mais enfermariam. 

    O assunto não-violência ativa é tão antigo que os romanos cultivavam a expressão “si vis pacem par bellum” – se queres a paz, prepara a guerra –, ou seja: não sabemos viver sem combater. Aliás, num mundo em paz, o termo “paz” seria impronunciável, pois com quais vocábulos o belo falaria do belo? 
     O mundo de paz é o mundo feliz a depender apenas de nós, mas, historicamente, a ascensão à vida em paz exige sacrifícios pessoais, como os de Jesus, Sócrates, e Martin Luther King; e dentre as mulheres temos as “três guerreiras pacifistas”: Ellen Johnson-Sirleaf, Presidente da Libéria; Leymah Gbowee, ativista liberiana; e Tawakkul Karman, a iemenita; todas ganhadoras do Nobel da Paz 2.011. 
A paz e o seu ensino não são, em absoluto, de fora para dentro, mas, ao invés, de dentro para fora, pois a paz só é possível por se achar inserida em nós, sendo-nos natural em vez de sobrenatural. E quanto ao problema do mal no mundo, apenas nos aparece por lhe darmos destaque em lugar de notícia, porquanto, no tempo em que os bons se unirem para bani-lo, serão as boas ações a multiplicar os exemplos morais.

     Essa disseminação do mal é tão extensa que os humanos somos violentos em nossos próprios lares, todavia passamos por bonzinhos nos alheios: hipócritas! 
No mundo pacificado imperará a liberdade associada à responsabilidade que libertar-nos-á, mas jamais as libertinagem, anarquia, nem promiscuidade. A paz é pura, é pura paz. Corolário do amor, a ação não-violenta ativa é inclusiva e democrática por unir ao atrair às pseudo“partes”

     A violência só existe em nós, nunca em Deus, por ser impossível, exceção feita ao Iavé abominável do Antigo Testamento, único local onde iremos encontrá-lO assassinando e determinando assassinatos;  entretanto, o homem do século XXI, o homem do bom-senso, ainda crê num Deus assim? Não, por certo. 

    Em 10 de novembro de 1.998, a Assembleia Geral das Nações Unidas proclamou a primeira década do século XXI como a do Decênio Internacional da Promoção de uma Cultura da Não-Violencia e da Paz em Prol das Crianças do Mundo, tamanha é a nossa fé na “satiagraha”.

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