DESIGUALDADES

NOVEMBRO/2.014 – Joel Fernandes é Médium e Filósofo

Procura-se a igualdade. Acaso conhece-a? Mas, caso não a conheça, então como a busca, pois como se busca algo desconhecido? E o principal: buscá-la para fazer o quê com ela?  Aliás, já encontrou-a alguma vez? E, por mais difícil que seja: nalgum momento terá ela existido, essa igualdade física ou moral, para todos? 

Sem dúvida não será possível, no âmbito material, considerá-la como possível de igualar a raça humana, pois não? Nem por clonagem genética, pois como seria uma raça de iguais?

Consideremos a possibilidade de sermos, a humanidade, descendente de Adão e Eva; logo, sem exceção, teríamos que possuir suas heranças genéticas e, aí sim, todos seríamos, pelo menos figurativamente, iguais. Somos? Não. E segue-se, por conclusão: 

1º) Aquele casal mítico jamais existiu; e 
2º) A igualdade jamais existirá. 

Na verdade a igualdade é algo possível apenas de ser pensado por abstração a partir dos infinitos individuais, os diferentes existentes, porque jamais a vimos, jamais a veremos e, certamente, isso fará com que jamais a obtenhamos. Disso decorre de só podermos pensar nela por oposição às desigualdades, essas sim, sempre vigentes. O mundo é, assim, esse descomunal fato desigual e, se assim é, então o é por provir do Deus-Criador, pois basta-nos, ao observar as Suas leis, constatar a impossibilidade de obtermos a igualdade porque as leis naturais-divinas caracterizam-se por tudo criar desigualmente, fazendo imperar a diversidade aceita que, por fim, apresenta-nos o mundo bem melhor por torná-lo mais gostoso, intrigante, colorido, e divertido.

Existimos nele e será a partir da desigualdade que iremos encontrar a semelhança perfeita, ou seja, a unidade da multiplicidade ou, noutros termos, a ideia de igualdade. Tudo é tão desigual no universo, que jamais existiu, inexiste, nem nunca existirão, duas gotas idênticas de chuva, nem muito menos duas chuvas idênticas. Por que? Porque um mundo de idênticos implicaria imediatamente num mundo fechado, rígido, congelado, e entrópico – onde todos os fenômenos são irreversíveis, como no exemplo do gelo que se derrete no copo – e, no limite, em nosso desaparecimento, pois, se tudo fosse igual, então coisa alguma existiria individualmente e não haveriam nem o conhecimento científico e nem o moral. E mais: se pudéssemos figurá-lo, teríamos uma espécie de, digamos, lençol contínuo, sem começo nem fim, mas é-nos impossível pensá-lo assim, na medida em que tão-somente teríamos um todo homogêneo que não seria igual a nada porque não haveria nada para com ele se igualar e, além do mais, se fosse assim, então o universo tornar-se-ia muitíssimo chato.

Fomos salvos dessa inércia, na qual nos veríamos projetados, pela sapientíssima inteligência divina! E mesmo sendo a Matemática uma ciência exata e abstrata, torna-se impossível pensarmos em qualquer figura geométrica igual, como um triângulo, por exemplo, posto sempre estarmos a pensar num tipo qualquer dos quatro triângulos existentes. Se duvidar, experimente.

Mas se foi Deus quem tudo criou, então como n’“Ele” podem coexistir os desiguais, caracterizando assim uma contradição, como o quente e o frio “ao mesmo tempo e na mesma relação”? Essa questão, profundamente teológica, foi resolvida pelo filósofo Leibniz (1.616-1.716) ao nos informar que os contraditórios apenas existem em Deus como noção, não como existentes concretos, desvitalizando desse modo a filosofia de Spinoza (1.632-1.677) para quem Deus, consoante sua avultada obra, “ética demonstrada à maneira dos geômetras”, era a “única substância” com dois atributos: espírito e matéria. Teria Spinoza encontrada a tão decantada unanimidade na dupla desigualdade? Impossível, porquanto como Deus poderia ser “espírito e matéria” ou, dito doutro modo, “espírito-matéria”

Para a Doutrina Espírita Deus é Deus, quer dizer, o inominável, o inefável – o único ser desconhecido por nossa racionalidade definidora, mas não em Sua racionalidade existencial –; é a inteligência suprema, causa primária de todas as coisas” (P.1/LE); o universo é composto por espírito, matéria, e fluido universal (P.27/LE), enquanto o homem é um construto de espírito, perispírito, e matéria. Onde então a igualdade? Somente no mundo moral-espiritual, mas, mesmo assim, sem quaisquer homogeneidades, unicamente nos entendimentos dos conceitos do que as coisas são, considerando que os espíritos são espíritos em graus avançados ou recuados em relação ao conhecimento. E como Deus é Sábio, então somente nos evangelizaremos com o outro, o nosso desigual, pelo outro desigual, e através do outro desigual, o qual e somente o qual que fará com que nos vejamos.

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