O PERFUME DE UM COMETA

Cássio Barbosa é Prof. de Astronomia – NOVEMBRO/2.014

    Sabemos que cometas são “bolas de gelo sujo” e, apesar de ser uma simplificação exagerada, traz uma ideia não muito distante da realidade. Os núcleos dos cometas são agregados de rocha e poeira, tudo misturado num amálgama de gelo, como se o material gelado de diversas composições químicas funcionasse como uma espécie de cola para manter tudo coeso. A gravidade dessa maçaroca, apesar de muito baixa, também consegue manter algumas pedras e rochas em sua superfície.

     Núcleos dos cometas são muito escuros e, comparativamente, refletem menos luz do que um pedaço de carvão. Essa característica vem das observações de cometas periódicos que estão há centenas, talvez milhares de anos, em nosso Sistema Solar. Pode até ser que “cometas novos” como o “Siding Springs”, que passou por Marte nesse domingo (19 Out), sejam ainda mais escuros. Ocorre que quando os cometas se aproximam do Sol eles esquentam lentamente, mas o suficiente para evaporar o gelo contido no núcleo, e uma nuvem de gases, chamada “coma”, forma-se ao seu redor, impedindo-nos de ver o núcleo e, dependendo das condições, uma ou várias caudas se formam a partir dele.

     O gelo, que pode ser de diversas espécies químicas como metano, cianeto, água, ou gás carbônico, pode evaporar em eventos violentos. Os casos mais comuns são a emissão de jatos vindos do subsolo do núcleo, mas também pode haver explosões quando um bolsão subterrâneo de gelo fica exposto ao Sol e se aquece rapidamente.

       Esta foto do núcleo do cometa “67P/Churyumov-Gerasimenko” mostra bem a evaporação do gelo e a emissão dos jatos. Foi obtida pela sonda Rosetta, no final de setembro, a 26 km de distância do núcleo, e mostra sua atividade aumentando mais do que o esperado. Isso pode se tornar um problema no dia 12 de novembro, data marcada para o pouso da sonda “Filas”. O procedimento todo deve durar sete horas e, se o núcleo estiver muito ativo, serão sete horas de um voo muito turbulento.

Compartilhe nas mídias