ORÁCULOS

AGOSTO/2015 – Joel Fernandes é Médium e Filósofo

     Sentenças ou decisões inspiradas por Deus ou pelos deuses, os oráculos não são senão respostas antecipadas do futuro, tidas como verdades incontestáveis e, poderíamos mesmo adiantar, “revelações” preciosíssimas, pois quem as possuísse poderia autoprogramar-se para obter tudo de melhor para si. Claro, nos oráculos entra o divino, porquanto somente o divinatório tem capacidade de enxergar o futuro não enxergável, conforme, aliás, a raiz de “divina”.

     Em Delfos, na Fócida/Grécia, tivemos um dos mais antigos oráculos ditados pelas pitonisas naqueles centros religiosos. Seu prestígio irradiou-se sobre todo o mundo antigo, dos VII ao IV A.C., quando a palavra de Apolo, o deus da beleza, da luz, das artes, e das profecias, imperava, aconselhadora. Até no Antigo Testamento encontramos predições dos oráculos-adivinhos, não obstante suas proibições, porém todas redundadas em desnecessidade, pois tratavam-se de fatos, bastando-nos consultar Lv 19:31. E o Apocalipse, de João? Não se trata do maior oráculo dentre todos por prever a morte planetária e a salvação – pasme – de apenas 144.00 pessoas? Todavia, quanto a nós, massa gigantesca, restantes… Hoje, relendo-o, vemos o quanto aquele vaticínio joanino acabou por se tornar uma espécie de maldição, tamanhas suas fealdade e crueza. 
     Na verdade não existe futuro descolado do presente, porquanto, se o tempo é contínuo, então onde o sábio capaz de parar o presente? Disso, realmente, redunda no passado-presente, no presente-presente, e no futuro-presente, todos fluindo incessantemente, porém deixando nos céus das nossas bocas a incitante seguinte pergunta: o que é o tempo? 
     Agostinho de Hipona, teólogo e filósofo africano, considerado “o santo da inteligência”, questionou em suas “Confissões; XI”: “O que é o tempo? Se ninguém mo perguntar, eu sei; se o quiser explicar a quem indagar, já não sei”, pois o tempo nos escapa: não conseguirmos percebê-lo, apreendê-lo, ou medi-lo. Daí: que é o “agora”, essa percepção psicológica pura, oposta às existenciais-calendáricas? Podemos lançar fora os relógios e folhinhas, entretanto nosso tempo interno continuará a existir, fluindo sempre. 
    Pela compreensão do universo ser aberto-ilimitado, não existe um dentro nem um fora dele que, no entanto, continua a se expandir e, nesse caminhar imortalista, vai criando os tempo e espaço, juntos, conforme as considerações dos astrofísicos-matemáticos, após a ocorrência daquele histórico e quase transcendental “big-bang”(“grande explosão”), seu inicializador. 
     Para o sábio Isaac Newton o tempo era absoluto, mas ao invés, para o filósofo Kant, era uma “forma de sensibilidade”, a interna, para conhecermos a realidade. Claro, hoje seria um sonho quase utópico assistirmos alguém preocupado com o tempo, assunto estudado – mas nem tanto assim – dentro dos muros universitários, porém, digamos, em louvor da verdade: se ainda o estudamos, é por ainda conhecermo-lo muito pouco. Contudo ambicionamos descobrir, pelo menos, os nossos futuros. Isso é possível? 
     É curioso observar as histórias dos primeiros oráculos-profetas: no Egito, provavelmente entre 2.180 e 2.040; junto das pitonisas integrantes dos cultos de Cibele e Átis, cuja tradição alcançou o império romano; mas no judaísmo encontramos suas mais significativas manifestações históricas-religiosas, pois seus profetas-oráculos tiveram, como características principais, as de servirem como mediadores entre um deus e um povo determinado, e isso desde suas fases tribais de tradições apenas orais. Lembremo-nos de Samuel (XI A.C.). 
     Comecei a investigar o tema depois da leitura da “Lei de Liberdade”, constante d’“O Livro dos Espíritos”, a qual disserta sobre liberdade natural, escravidão, liberdade de pensar, liberdade de consciência, livre-arbítrio, fatalidade, conhecimento do futuro, e resumo teórico das ações humanas. E como somos libertos apenas para cumprir a fatalidade existente exclusivamente pelas escolhas das provas físicas que fizemos antes de reencarnar, porquanto às provas morais os espíritos são sempre livres de ceder ou resistir, a pergunta 868 assim nos elucida quanto ao futuro: “Em princípio o futuro é oculto ao homem e só em casos raros e excepcionais permite Deus a sua revelação”.

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