SETEMBRO/2015 – Joel Fernandes é Médium e Filósofo
Tão perseguida, e por quase unanimidade, a sorte depende, perguntemos assim, das “mãos” divinas ou humanas? E deixamos de citar o azar por este, sem dúvida, não se encontrar em nenhumas daquelas mãos, é claro, exceto nas de Lúcifer.
Aliás, a expressão antiga, “Vade retro”, ou “retira-te, Satanás”, teria provindo da boca de Jesus-Cristo, conforme Mateus 4:10 e 16:23: na primeira ele teria se dirigido ao Diabo que o tentava e, na segunda, ao apóstolo Pedro, bastante temperamental, como sabido por todos, durante o período antecedente à crucificação.
Para quem acredita na existência de Lúcifer, eis, acima, duas amostras “bíblicas-históricas”; mas, mesmo considerando a descrença espírita no maligno – entidade contrária às potências infinitas-perfeitas do Criador – e também pondo em dúvida o Mestre de Amor havê-las enunciado, passando-nos assim um exemplo péssimo de sua fulgurante inteligência espiritual, a questão “sorte ou azar” continua repercutindo mal em nossos ouvidos.
“Sortudos”? Sim, há, como observamos, e para isso basta adquirir pelo menos um número, o futuro “número da sorte”. Só perderá quem não jogar. Contudo persistirão existindo os ganhadores de sempre: os banqueiros.
Contudo, “sorte” seria exatamente o quê? Seria a força determinadora de tudo quanto nos ocorre e cuja causa seria atribuída ou ao acaso ou ao destino predeterminado? E este mesmo raciocínio valeria para o “azar”? E mais: seriam críveis os “acaso” e “destino”? No resultado, todavia, constatamos que o mais interessante foi ele não haver dependido, em absoluto, dos nossos livres-arbítrios, os quais somente foram usados quando escolhemos concorrer. E quando, porventura, for um jogo de vida ou morte, como o da coragem insensata duma “roleta-russa”? O final – sorte ou azar – será determinado pelo acaso naquela suposta fatalidade?
Estamos agora centralizados em nossa questão máxima que, pelas suas dificuldades, mereceu da Espiritualidade um capítulo, o “da lei de liberdade”, constante d’“O Livro dos Espíritos”. Na pergunta 851, Allan Kardec consultou os Espíritos superiores: “Haverá fatalidade nos acontecimentos da vida, conforme o sentido dado a este vocábulo? Quer dizer: todos os acontecimentos são predeterminados? E, neste caso, que vem a ser do livre-arbítrio? ”. Resposta: “A fatalidade existe unicamente pela escolha que o Espírito fez, ao reencarnar, desta ou daquela prova para sofrer. Escolhendo-a, instituiu para si uma espécie de destino, que é a consequência mesma da posição em que vem a achar-se colocado. Falo das provas físicas, pois, pelo que toca às provas morais e às tentações, o Espírito, conservando o livre-arbítrio quanto ao bem e ao mal, é sempre senhor de ceder ou de resistir. Ao vê-lo fraquear, um bom Espírito pode vir-lhe em auxílio, mas não pode influir sobre ele de maneira a dominar-lhe a vontade. Um Espírito mau, isto é, inferior, mostrando-lhe, exagerando aos seus olhos um perigo físico, poderá abalá-lo e amedrontá-lo; entretanto, nem por isso, a vontade do Espírito reencarnado deixará de se conservar livre de quaisquer peias”. E o assunto, após transitar pelas questões das: perseguições fatalísticas; momento crucial; escapar de morrer; antecipação do gênero de morte; acidentes; modificações daquela escolha; predestinação ao assassinato; tudo dar errado; etc., eis-nos diante da 865: “Como se explica a boa sorte favorecer algumas pessoas em circunstâncias com as quais nada têm que ver a vontade nem a inteligência: no jogo, por exemplo? ”. Resposta: “Alguns Espíritos escolheram previamente certas espécies de prazer. A fortuna que os favorece é uma tentação. Aquele que, como homem, ganha, perde como Espírito. É uma prova para o seu orgulho e para a sua cupidez”. E da 867: “Donde vem a expressão: ‘Nascer sob uma boa estrela’? ”. Resposta: Antiga superstição que prendia às estrelas os destinos dos homens. Alegoria que algumas pessoas fazem a tolice de tomar ao pé da letra”. Conclusão: sorte ou azar não existem.