A CIÊNCIA E OS ESPÍRITAS

DEZEMBRO/2.014 – Paulo Roberto – Professor e Filósofo

          O químico Marcos Eberlin, professor titular da Unicamp e membro da Academia Brasileira de Ciências, está organizando um Congresso Brasileiro do Design (Desenho; Projeto) Inteligente, a partir de 14 de novembro, em Campinas e, embora seja partidário da seita batista, terá pela frente a fina flor dos adversários da Teoria do Design Inteligente (TDI).

          Mas o que é a TDI? É a defesa de que os seres vivos são complexos demais para terem surgido por ação das leis naturais a partir da matéria não viva.  Essa complexidade seria  o “sinal de um ‘design’embutido nos seres vivos por algum tipo de inteligência avançada” (Reinaldo José Lopes, suplemento “Ciência+Saúde”, Jornal Folha de São Paulo, 27 Out 14). Sua finalidade não é provar que Deus existe, mas sim que houve uma ação inteligente, seja Deus, um Extra Terrestre (ET), ou uma força que permeia o Universo.

          Os biólogos, principalmente os americanos, discordam: para esses é uma tentativa de misturar Ciência com convicções religiosas. Eberlin, porém, alega que estudando o assunto existem católicos, agnósticos, evangélicos, e espíritas; inclusive entre os membros mais destacados do Comitê Organizador estão dois professores, teólogos presbiterianos, da Universidade Federal do Amazonas e da Universidade de Brasília.

          Para Eberlin e os químicos, maioria no grupo, “a probabilidade de reações químicas naturais levarem à formação de células primitivas seria praticamente nula; a complexidade bioquímica das células atuais, com mecanismos de correção de DNA, é indício de design inteligente” (cf. cit. supra), e o Congresso pretende apresentar um manifesto para a Teoria da Evolução ser transmitida aos alunos da maneira correta e na idade certa. “É um absurdo ensinar na escola, para crianças pequenas,  que o macaco simplesmente se transforma em homem” (cf. cit. supra). Polêmicas, certamente, serão as discussões no Congresso, mas o que interessa a nós, espíritas, tais assuntos e discussões?

          “Que é Deus?” “Inteligência suprema, causa primária de todas as coisas”. (KARDEC, Allan; “O Livro dos Espíritos”; Trad. José Herculano Pires; 8ª Ed.; São Paulo; Lake; 2.007). Em seu item 4 pergunta-se “como se pode encontrar a prova da existência de Deus?”. E a resposta é simples: “Procure-se a causa de tudo o que não é obra do homem e a própria razão dará a resposta”. E quando no item 8 vem a pergunta “o que pensar da opinião que atribui a formação primária a uma combinação fortuita da matéria, ou seja, ao acaso?”, a resposta é “Um absurdo. Que homem de bom senso pode considerar o acaso um ser inteligente? E o que é o acaso? Nada!” (cf. cit. supra).

             Esse problema fora debatido no XIX e ainda continua gerando debates no XXI e, assim, muitos outros vêm trazer à tona o grande encontro da Ciência x Religião. Problemas no mundo da Física, da Biologia Molecular e Evolutiva, da Química…, interpretados de formas diferentes conforme são encarados pelos lados científicos (materialistas) ou religiosos (fundamentalistas).

            Ora, eles são problemas que nos dizem respeito, embora muitos não considerem assim. Nossos filhos nos inquirem, nossos alunos nos questionam, e nossos encontros com pessoas doutras religiões e filosofias também pedem nossas opiniões e respostas e, nos cursos das Casas Espíritas surgem questionadores buscando respostas claras e convincentes. Todavia, que fazemos? Muitas vezes comportamo-nos como avestruzes, enfiando nossas cabeças na areia, procurando disfarçar, mudando de assunto, tossindo, pigarreando, dando respostas vagas e insatisfatórias, fugindo de uma forma ou de outra do assunto. Isso se não nos tornarmos agressivos: “Essa pessoa está me perturbando, já vou pô-la a correr”

             Muitos espíritas esquecem que Kardec deixou bem claro que o Espiritismo é Filosofia, Religião, e Ciência, só pensando na Filosofia e Religião e, aliás, alguns sequer leram o “O Livro dos Médiuns”e/ou o “A Gênese”. Depois advêm aqueles vexames, principalmente quando dão de frente com um inquisidor bem tenebroso, como aconteceu quando o padre Quevedo fustigou o Espiritismo com suas teorias parapsicológicas. Enquanto a Igreja apenas atacava pelos lados filosófico e religioso, cada um ficou em seu cantinho sem se incomodar com os ataques, mas, quando os parapsicólogos quevedianos começaram o bombardeio, muita gente entrou em pânico. Seria o fim?

          Hoje não tememos mais a Parapsicologia, entretanto os evangélicos nos indagam sobre a mediunidade, o mundo dos espíritos e suas manifestações de todo gênero, enquanto os cientistas também apresentam teorias assustadoras de muitos. 

          Qual a causa toda desse temor? Digamos a verdade: quando a Doutrina Espírita sumiu do cardápio francês, os praticantes de então não tiveram condições de enfrentar o desenvolvimento da Filosofia que, de Positivista, evoluiu para a Marxista e, posteriormente, à Existencialista, não sabendo os espíritas dar respostas à sociedade, principalmente aos jovens. Aliás, o Espiritismo não vive só dos velhos, alguém terá que lhes suceder e, se os jovens não forem atraídos, quais virão em seus lugares? Os anjos do céu? O final do XIX  foi um período desenvolvimentista tecnológico e científico surpreendente e, tirando Kardec e mais meia-dúzia de compromissados com o Espiritismo, imbuídos dos conhecimentos filosófico e científico, os demais eram pessoas simples, afastadas de toda e qualquer novidade do saber moderno.

              No Brasil a doutrina encontrou terreno fértil numa época em que os estudos eram para os filhos dos nobres ou ricos, só eles iam para as faculdades e nunca se interessavam por esse negócio”quadrado” de religião, contudo os tempos mudaram. Duma época de cinco ou seis universidades no país, hoje temos quase duzentas, sem contar as faculdades e institutos isolados, centros de pesquisa, tecnologia, e periódicos de altos níveis. O Espiritismo, antes, era para os pobres, gente pouca letrada, e mesmo os cultos eram contados nos dedos, como Bezerra de Menezes, por exemplo, todavia, hoje, é diferente, pois qualquer adolescente acessa os computadores, bibliotecas reais ou virtuais, mídia televisiva, …. A Ciência evoluiu da simples Teoria da Evolução Darwinista à Teoria Quântica, e à Teoria do Caos; sabemos mais do “Big-Bang” que de nós mesmos e já mandamos satélites que estão passando por Plutão. 

              Temos uma juventude e mesmo adultos descontentes com simples afirmações, principalmente se forem dogmáticas, daí o abandono das religiões tradicionais e o desprezo por suas crenças. E com isso o mundo, sem encontrar outras saídas, afunda num materialismo deletério, produzindo muitos desajustamentos e loucuras que deixariam os romanos da época de Nero e de Calígula babando de inveja e frustração.

             Quando trabalhamos nas Casas Espíritas encontramos muitas indagações consideradas, por despeito ou por temor, como questiúnculas, mas para quem as pergunta são importantíssimas, principalmente nos momentos de decisões de escolhas de caminhos de vida. O que sabemos delas? Pouco ou nada, porque nunca nos preocupamos com a Ciência, sempre achando ser coisa para sábios universitários.

          Entretanto elas nos acompanham a cada passo. Nada sabemos de Física, Química, Biologia, e mesmo da mais simples Psicologia. 

             Assim fica difícil trabalharmos e incentivarmos os jovens. Se, já com os adultos é problemático, pois não mais se contentam com respostas dúbias ou vagas, o que não dizer do jovem atual que tem toda uma parafernália na obtenção de conhecimento às mãos?

             Fica uma reflexão: a responsabilidade do espírita moderno é enorme, não lhe bastando praticar a parte religiosa ou ficar apenas na filosofia d’“O Livro dos Espíritos”; daí: que responderemos ao jovem a nos perguntar sobre a vida em Marte ou em Júpiter, porquanto os cientistas estão declarando  “não haver sinal nenhum de vida por lá”?  

            Essa será uma questão a ser tratada em futuro próximo, quando falaremos da teoria quântica e dos mundos paralelos

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