JUNHO/2015 – Joel Fernandes é Médium e Filósofo
Todos o temos, intransferível, mas, como todos, também perecível, e Jesus-Cristo também teve o seu porque, sendo homem e haver afirmado que não veio destruir a Lei – o que é corretíssimo por ser inteligível –, afirmou ainda ser um elemento da tríade divina – o que não está correto, absolutamente, posto não ser inteligível e, por isso mesmo, acabou suscitando infindáveis discussões “teo”, “pneumo”, e antropológicas –, ou seja, “o Filho”, um conceito-ideia de, no mínimo, complexidades enormes. Mas, pelo sim, pelo não, teve o seu corpo – carnal, ao que tudo indica, considerando a gravidez e o parto de Maria, sua mãe – e com ele, convivido com todos e como todos os outros meninos. E foi daqui que nasceu a nossa dúvida: havendo-o tido, será que ainda o conserva? Perguntamos isso porque aquele corpo saiu do túmulo e andou, falou, comeu, e desaparecia quando menos se esperava, contrariando as nossas potencialidades sensoriais.
Foi com tal corpo que viveu por, digamos – na incerteza histórica –, 37 anos entre os hebreus e, após haverem pregado seu indumento à cruz, com ele mesmo ressurgiu e apresentou-se por mais 40 dias diante de muitos! Então, pensemos bem antes de desencarnarmos: como é possível, estando morto, estar, simultaneamente, vivo? Isso já não seria uma derrogação máxima da Lei que, dissera, não viera derrogar? Entretanto, o que impera do lado oposto dessa nossa incerteza quanto ao seu falar? A crença, surpreendente, de ter sido assim mesmo, isto é, assim como a Bíblia narrou e narra. Sem dúvida, essa é a atitude frouxa que denominamos “fé”, tal qual algo do tipo: não vi, porém creio, caso contrário não poderei mais ser considerado “cristão”.
A esses cristãos, pensamos os espíritas, falta-lhes a racionalidade trazida pelas conquistas das ciências biológicas, porquanto comportam-se como sendo dotados duma fé ingênua.
O Cristianismo, estamos a ver, pressupõe a crença naquele corpo ferido, incorruptível, e “ressuscitado” – apesar de fora de hora e lugar, por haver sido na Terra –, como pressuposto fundante, desconsiderando o fato dos inúmeros ferimentos do Cristo estarem secos e, fato mais admirável ainda, sem quaisquer infecções! Mas isso, que intelectualmente os quatro evangelistas não registraram, para nós reveste-se de suma importância por contrariarem as leis naturais criadas por Deus.
Todavia, mesmo se considerássemos que Jesus chegou a possuir um corpo tão original, então nossa curiosidade natural perguntaria: e conservou-o mais uma vez, quando se despediu do planeta, não obstante ter sido considerando muitíssimo estranhável sua ascensão celeste com ele? Enfim, que corpo excepcional foi aquele dado por Deus, perfeitamente justo? Mas Deus teria sido “justo”, mesmo?
Mas, e se fôssemos nós em vez do Mestre? Teríamos corpos esburacados, porém impossibilitados de se desgastarem, no Mundo Espiritual? Trata-se aqui duma situação inusitada: nasce-se perfeito, contudo morre-se faltando pedaços e, caso único, historicamente falando, morre-se por duas vezes e identicamente, isto é, com o mesmo corpo não envelhecido e estabilizado no tempo que flui sempre, contrariando assim a lei natural porque, se todo corpo é material, então sua coesão eletromagnética desgasta-se pelo uso e torna-o doente, vitimando-o fatalmente; entretanto, vitimando-o com quais patologias?
Tudo na Bíblia se tornou e ainda se torna muito confuso ao entendimento racional, pois o fato do “Homem” Jesus – como ele também se autoproclamava – não seria suficiente para pensá-lo como sendo um de nós, um humano? Sobre o assunto até evitamos pensar: “são divinos, mistérios insondáveis! Não nos intrometamos, senão o Capeta poderá se manifestar!”, dizem-nos os clérigos, sejam em diálogos particulares ou sejam em suas pastorais; mas isso, talvez, por temerem o Inferno.
Tratam-se de respostas evasivas que, infelizmente, não nos dão as razões de coisa alguma por rebaixarem a metafísica a limites do infra solo e, pior, ainda assumem ameaçar-nos com os “inimigos de Deus” às nossas costas, como se tivessem o poder de tê-los! Tal prepotência, admiremo-nos, é “o fim do mundo”!
“Façam-nos o favor!”, poderiam lançar em seus rostos, plenamente, os mais exaltados buscadores da verdade, tendo em vista a humanidade já fazer quase cem tipos de transplantes cirúrgicos, haver pisado na Lua, experimentado comunicações telepáticas, mandado “torpedos imediatos” para a Sibéria, ver televisão por telefones celulares, tocar no fundo oceânico, falar com as televisões inteligentes, fabricar robôs construtores de carros e, pasmem, construir robôs de robôs! Esses sim, são os nossos veros “milagres” na medida em que, se Deus existe, então, admitamos com lógica:
1) “Tem que estar no leme do universo” e, logo, deseja os acima, ou;
2) Não existe e, isso, deverá ser, definitivamente.
Entretanto, se “Deus não joga dados com o universo”, segundo a expressão einsteiniana tornada clássica, meus amigos, não podemos escapar a resposta: ou Deus existe e nós existimos, ou, se Deus não existe, então não existimos e nem podemos ter consciência de escrever o que estamos lendo! Mas, como estamos certos disso, de estarmos lendo e pensando-inteligindo, então afirmamos: não podemos duvidar das nossas existências e, consequentemente, Deus existe. Assustou-se com a conclusão? Por quê? Se assustou-se, então é porque há algum motivo para tal na descoberta do nosso Criador, ou não há?
Para nós, mortais ou “simples mortais”, tanto nos faz, porquanto corpos jamais foram problemas, tampouco o do Mestre, absurdamente apresentado como “filho de Deus em Deus”, pois, se assim fosse, qual seria o corpo de Deus?
Enfim, você julga mesmo que, se Jesus fosse Deus, teria pronunciado: “O que eu faço, vós podeis fazer e muito mais”? Pense melhor.