IDE E PREGAI

Março/2.014 – Joel Fernandes é médium e filósofo

     Caso estudemos a História do Cristianismo, ou o que dá no mesmo, o Novo Testamento, encontraremos, dentre as derradeiras recomendações de Jesus ao seu colegiado, o “ide e pregai” (Mc 16:15). Todavia cumpre-nos indagar “do” ou “dos” motivos pelo(s) qual(is) o Mestre – “modelo e guia da humanidade”, de conformidade com a pergunta 625 d’“O Livro dos Espíritos” (LE) – teria feito tal determinação no plural, mandando irem dois apóstolos em vez de um só! Você sabe? Não? Então busquemos juntos a(s) essa(s) resposta(s). Algumas passagens crísticas, tal como essa, prosseguem desapercebidas em seu trânsito por não encontrarem sua explicação racional até mesmo através dos seus modernos epígonos, os teólogos, porque, afinal, seu exemplificador, o “Raboni”, iniciou sozinho.

     Sucede que quando “formos”, ou nos pusermos em movimento, começaremos a exercitar a vida, não só a vida física pelo exercício cárdio-vascular-muscular-respiratório como também a vida moral pela convivência com o companheiro de jornada, ou o “outro”, porquanto só no encontro com o “outro” poderemos exercitá-la. “Ide” portanto aonde? Ao local onde se encontra “o outro”, esse “outro” ainda desconhecedor da Boa Nova. Se o “ide” é a ordem espiritual para sairmos das nossas zonas de confortos, então o “pregai” é o caminho e “o outro” é o ponto de chegada dos nossos apostolados. Somos então, por determinação de Jesus, núncios – “anunciadores; mensageiros; embaixadores” – de Deus.

     Do afirmado acima podemos concluir que o apóstolo só realizará sua tarefa de “ir e pregar” se a realizar no “outro”, isto é, no “outro” irmão, no “outro” ainda preso às argolas de aço da ignorância impeditiva da felicidade, pois ninguém pode ser feliz na ignorância, mas apenas cumprindo a Lei. E o tema da felicidade não é, absolutamente, algo novo para homem algum por ser universal, considerando a afirmação do “Pai da Filosofia”, SÓCRATES de Atenas (470/399 a.C.), em relação a ela: “ninguém deseja ser infeliz, Mênon, porque o que é a infelicidade senão o desejo e a posse do mal?” (Mênon, 77d-78c). Por outro lado tudo quanto vive é provido de movimento e, quanto mais jovem se é, mais qualidade e quantidade de vida teremos, considerando que o seu oposto, a senectude, é o enfraquecimento, ou o sermos apáticos no pensar, no falar, e no agir. Não se trata de preguiça mas de paralisação gradual dos movimentos pelo desgaste orgânico conducente à diminuição das nossas forças, prenúncio de nossa desencarnação natural.

     Mandando-os viajar JESUS fazia-os encontrar o “outro” porque somente no “outro” encontrariam a si mesmos, visto o “outro” nos ser semelhante – mas nunca igual e, por isso mesmo, “irmão” –. Eis o porquê dele ser o “outro”. Torna-se evidente que foi ao encontro de si mesmos que JESUS lhes ordenou “ide”, sabedor que era de que tal autoconhecimento somente poderia se dar pelo “pregai”. Por que? Porque quando pregamos não estamos pregando ao primeiro ouvinte, ou seja, nós mesmos? Onde outro “próximo” tão próximo? Somos os precedentes do “outro”! O encontro do si se dá no e com o “outro”, tornando-nos iguais perante Deus.

     Não continuemos a nos iludir: o Evangelho é, antes de tudo o mais, aos que o estudam, conversam, e pregam-no, repositório de ensinos morais jamais esgotáveis no “outro” nem em nós mesmos ao considerarmos nossas pequenezes; entretanto é apenas no encontro que o apóstolo se autodescobre.

     Eis o apostolado. O Evangelho é a edificação constante do único sentimento – o amor – em nosso entendimento e não existe sem, no mínimo, duas pessoas – o que dele fala e o que dele ouve. Por várias vezes o Nazareno enunciou claramente em seus discursos: “Porque onde estiverem dois ou três reunidos em meu nome, ali estarei no meio deles” (Mt 18:20). Viajamos então para nos descobrir e só nos autodescobrimos no “outro”, eis a resposta daquela questão primeira.

     Quem sou? De onde vim? Pra quê existo? Pra onde vou? Que é o mundo? Quem é o “outro”? Aprendi suas respostas na racional-lógica Lei da Reencarnação tão bem exposta na Doutrina Espírita (Capítulos IV e V do LE).

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