EXISTIR PARA QUÊ?

AGOSTO/2015 – Joel Fernandes é Médium e Filósofo

     Você está seguro, bem certo mesmo da sua existência e, se a resposta for positiva, então já conseguiu provar a si mesmo que existe e, portanto, tê-la como garantida? Esta foi a pergunta lançada por um dos incomparáveis amigo da humanidade, o pensador francês, René Descartes (1.496-1.650), o qual buscava uma prova fortíssima da existência de si próprio, pois coisa alguma havia no mundo capaz de demonstrá-la intelectualmente. Em suma, não confiando mais nos erros escolásticos medievalísticos das “igrejas da tradição”, as quais baseavam suas verdades confiando cegamente na lógica material-corporal dos sentidos, o filósofo, por conseguinte, partiu do princípio da dúvida: não crer mais no que duvidar e, em seguida. E de imediato questionou: os sentidos podem ser as fontes únicas e verdadeiras do conhecimento? Não, posto sempre nos enganarem. E exemplificou: o Sol, pela manhã, parece-nos grande, mas, ao meio-dia, ei-lo pequenino. Seu tamanho se alterou? É óbvio que não, mas o sentido universal da visão nos enganou, levando-nos a tal exagero, tanto quanto ainda continua a nos enganar ao fazer-nos acreditar que uma vareta intacta, enfiada n’água, acha-se quebrada. Enfim, exemplificando serem enganosas todas as nossas percepções sensíveis, considerou que, no extremo, duvidamos até das existências dos nossos corpos. Assim sendo, com a dúvida tornada cósmica, o sábio passou a buscar outra fonte para a verdade, caso houvesse alguma, e encontrou-a na razão, também universal como os sentidos. Aplicou o raciocínio simplista: se pensamos e não podemos duvidar disso, porque a dúvida é um pensamento, então não podemos mais duvidar das nossas existências e, consequentemente, existiremos enquanto pensamos, ou seja, o espírito, ou a razão, é mais fácil de ser conhecido do que o corpo. Conclusão: existimos como seres pensantes, eis nossa primeira verdade inata e certa. Entretanto, como a nossa autoprodução é-nos impossível, então algo, infinitamente maior que nós, criou-nos. Mas “quem”? Ora, como também temos em nós, seres finitos e imperfeitos, a ideia-pensamento do Deus criador, infinito, perfeito, e verdadeiro, que, conceitualmente, não nos engana, então somente “Ele” poderia havê-la colocado em nós e, sendo assim, Deus existe: eis nossa segunda verdade inata e certa; contudo, gravemos bem, o Ser Infinitíssimo existe pela razão, não pelo mosaísmo! 
     Mas existimos para quê? Teria Deus nos criado para, diariamente, pelas manhãs, tardes, noites, e madrugadas, as violências continuarem a pipocar repugnantemente nas ruas e trabalhos, sejam conosco, parentes, vizinhos, conhecidos, ou desconhecidos? “Existir para quê?”. Eis a questão. Será que trabalhamos tanto para, além das violências cometidas pelos facínoras, sermos sobretaxados e termos reduzidas as nossas sobrevivências? Não! Nossa razão moral afirma-nos que a divina moral não pode ter como fundamento a violência por essa esgotar-se com a velhice ou com o surgimento doutro mais forte e, desse modo, só poderemos sobreviver, em paz, pela compreensão da nossa interdependência pelo auxílio mútuo. Só a partir do conhecimento do outro e das suas dificuldades poderemos ver que ele sofre tanto ou mais do que nós, fazendo emergir assim, naturalmente, por ser inata nos seres vivos, a compaixão duns pelos outros para desabrochar, mais adiante, nosso amor por eles. 
     E quanto a Deus? Devemos amá-lO ou temê-lO, dado o acima? Amá-lO, pois a mesma razão já nos informara de Sua infinita e perfeita bondade. Logo, criou-nos para vivermos bem porque, se existem maldades, significa havermos sido nós seus únicos responsáveis pelos maus usos das nossas vontades sempre livres. Mas se, porventura, morrermos precocemente ou por bala perdida, claro está que não poderemos desaparecer, pois viveremos imortalmente, caso contrário “Ele” não nos amaria e, por isso, nosso existir não poderia ser o nosso reviver. 
     Existimos então para Deus, segundo o cartesianismo e a Filosofia Espírita, e existimos retamente, quero dizer, não pelo fruto de alguma revelação sobrenatural inexistente, mas sim pelo nosso modo racional de pensar. 

Compartilhe nas mídias