IGNORÂNCIA E CIÊNCIA

FEVEREIRO/2015 – Joel Fernandes é Médium e Filósofo

     O maior inimigo da ciência, ou conhecimento da verdade, é a ignorância – mãe das paixões –, ensino sobejamente sabido desde a Antiguidade Clássica, porquanto a ciência distingue-se da não instrução por se fundar num saber demonstrado universalmente em qualquer tempo e lugar. Mas, às vezes, a ignorância se confunde com a opinião, considerando esta se situar no absurdo de crer ser possível, a algo, ser e não ser ao mesmo tempo.

     No mundo fenomênico o presunçoso também se engana ao afirmar possuir uma ciência certa, contudo, a lhe contrariar, essa evolui permanentemente e aos saltos, segundo o epistemólogo norte-americano, Thomas Kuhn (1.922-1.996). Exemplifico: herdamos da Grécia Antiga a física aristotélica, finalmente posta de lado graças aos esforços iniciados 19 séculos após por Copérnico que, em 1.543, inverteu aquele paradigma vigente, mantido geometricamente por Ptolomeu (100-170) para as relações astronômicas; Galileu (1.564-1.642) seguiu Copérnico ao comprovar experimentalmente que a Terra girava em torno do seu eixo e em torno do Sol; e Newton, em 1.687, desferiu o golpe final naquele arcaico sistema tão do gosto bíblico ao defender a excentricidade do universo!

     A base de assentamento do conhecimento “científico” é a Matemática, única ciência exata e, por isso, a única capaz de respaldá-lo em leis. Por isso mesmo o velho saber qualitativo-descritivo, de quase 2.000 anos, ruiu, quantitativamente, no XVI, pelas adoções de modelos escalares científicos, ou seja, repetidores, à exaustão, das ocorrências cósmicas.

      Enunciada na Grécia em VI A.C., a Filosofia busca explicar tudo pela anuência das relações lógicas-racionais estabelecidas entre o pensamento e a natureza pensada, visto somente pensarmos quanto existe, pois o pensar numa baleia voadora só me informa que você pensa numa baleia, que existe, e num par de asas, que também existe, porém jamais numa baleia nascida voadora, fruto da sua imaginação!

     A Filosofia, mãe de todas as ciências que dela foram se separando gradativamente ao constituírem seus objetos de interesses e suas diferenças para com ela, acabou sendo colocada em oposição: a ciência progride, a filosofia é estática; a ciência é um modo de conhecer, a filosofia é um modo de viver; a ciência refere-se ao ser, a filosofia refere-se ao dever-ser; a ciência é conhecimento rigoroso, a filosofia é concepção do mundo exprimível, etc. E quanto à religião? Podemos considerar científicas as religiões judaicas-cristãs? Já nos legaram algum conhecimento certo? Vejamos: se a Bíblia é a palavra de Deus, e Deus não mente, então ela é o livro não só da Verdade mas é o único livro-verdade, porquanto apenas nela se dá o encontro da Verdade com o homem através de Moisés (Ex 3:14), quando Deus se apresentou como o “eu sou o que sou”, ou eu sou o que sempre é, logo, eu sou a Verdade por ser imutável. Ora, se Deus é a Verdade, então tudo na Bíblia se torna ciência, filosofia, e religião, entretanto não deixa de ser curioso observar que, enquanto as Filosofia e Ciência ascendem ao conhecimento daquela pelos esforços intelectuais humanos, a Religião é a descida da Verdade aos homens. Registre-se que as primeiras são conquistas, enquanto a segunda nem isso é, posto Moisés, um assassino (Ex 2:11), aliás, nada fizera para merecer semelhante privilégio glorioso, e isso caso tenha sido mesmo verdade o ocorrido. Inerrante, como explicará ela esse erro, clamoroso, dentre tantos outros: se a Terra é primeira (Gn 1:1), e se os “luzeiros do firmamento” – estrelas, Sol, e Lua – são segundos, porque “foram colocados no firmamento dos céus para alumiarem a Terra” (Gn 1:14-7), então como a Astronomia matematizou o inverso, em 1.632, com a obra “Dialógo sobre os dois máximos sistemas do mundo ptolomaico e copernicano”? A seguir, ameaçada naquelas suas antiquíssimas afirmações dogmáticas, a igreja determinou: tal ousadia não passaria impune! Em 1.633 o conselho do Santo Ofício – servidor da nefanda “Santa Inquisição” – ameaçou o nobre sábio e intimou-o a abjurar de suas ideias, considerando-o mais perigoso ainda que Lutero e Calvino! 

    E os anos, assim, deslizaram na ampulheta e teriam continuado se, em 1.992, o Papa João Paulo II não tivesse pedido desculpas ao mundo científico, afirmando: “a condenação de Galileu foi um trágico erro”. Conclusão: errou a igreja ao seguir a Bíblia e negar as conquistas científicas, logo, com tal confissão, ruiu a Bíblia, pois, se nela descobriu-se pelo menos uma mentira, como continuar confiando noutras noventa e nove afirmações? Todavia nada, absolutamente, aconteceu nas sinagogas e templos! Recusaram-se a pensar na gravidade do assunto! 

    Já o Espiritismo, andando de mãos dadas com a  ciência, afirma n“A Gênese, IV”: “Uma religião que não estivesse, por nenhum ponto, em contradição com as leis da Natureza, nada teria que temer do progresso e seria invulnerável”

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