DEZEMBRO/2014 – Joel Fernandes é Médium e Filósofo
Proponho-lhes esta questão pensada por todos, indistintamente de suas religiões: se Deus é bom, então qual é a causa do sofrimento mundial? Mas se, ao revés, não o é, então, como Criador de tudo, somente “Ele” poderia ser o exclusivo responsável pela existência do Mal. Aliás, considerando que Deus pode condenar uns ao Inferno inapelável e, por outro lado, pode salvar outros para o Céu inatingível, bem que poderíamos fazer à razão esta exigência: a de concordar, ao mesmo tempo e na mesma relação, que estas letras sejam maiúsculas e minúsculas ou, ainda, que um poste redondo fosse quadrado! Ora, homem algum seria capaz de tal proeza por se tratar dum absurdo, de algo antinatural. Todavia, como a dor não é distribuída a todos igualmente, pois uns sofrem mais do que outros, seria, portanto, uma incoerência racional atribuí-la a Deus e, em assim sendo, só nos resta admitir que Deus não é o seu desejante por ser perfeito e infinitamente bom.
Entretanto, se tal argumento não elimina a dor nos seres vivos, como justificaremos essa nossa angústia de saber qual a sua origem? Angústia tão antiga quanto a do primeiro homem, Adão, adoecido pelas emoções da vergonha e do medo da punição por haver comido o fruto da árvore do conhecimento do bem e do mal, mas não, como ainda hoje é apregoado, sob a forma dum massacre mental, “pelas igrejas da tradição”, pelo uso do sexo que, por sua vez, nada tem a ver nem com o bem nem com o mal e nem tampouco com o fruto “maçã”! Pois não era esperado que o par heterossexual copulasse e, aí sim, estaria se alinhando com o pensamento divino, cumprindo as finalidades das suas genitálias, conforme as determinações contidas em Gn 1:28 (“Sede fecundos, multiplicai-vos, enchei a terra e submetei-a; dominai sobre os …”), bem anteriores às contidas em Gn 3:1-23, onde o puniu? Meu Deus! Quanta contradição e quantos disparates reunidos em vosso e por vosso Nome! Como lamentamos profunda e sinceramente que não possais responder a tantas diatribes, todas ilógicas!
Eis portanto a nossa parte: optamos por ficar com o célebre autor espírita, Arthur Conan Doyle (1.859-1.930), homem de inteligência inconteste, demonstrada ao criar o romance policial, pai que foi de“Sherlock Holmes”, quando, corajosamente, negou abjurar de sua racionalidade ao ser pressionado pelo grupo de seus ascendentes quanto à sua fé.
Numa conclusão rápida afirmamos que o ceticismo surge exatamente da Bíblia, pois como crer nela se todas as evidências lógicas nos apontam para o caminho inverso? Por exemplo: e se o “primeiro casal” houvesse pegado um resfriado inocente e morrido? Claro, isso revelaria uma fraqueza e uma fissura no planejamento divino para a humanidade! Não seria muita responsabilidade sobre as costas do primeiro par humano?
Desde 1.859, quando foi lançada a obra excepcional, “Sobre a origem das espécies por meio da seleção natural”, partida das observações mundiais dos reinos naturais, o mundo ficou sabendo que homens, chimpanzés, e bonobos atuais, descendem, como primos, dum primata comum cujo DNA existiu há 7 milhões de anos, na África, pois, em 13 de junho de 2.012, conforme a reportagem do “Portal G1”, extraída da revista científica “Nature”, o mapa genético do bonobo é 98,7% idêntico ao do humano, ou seja, bastante diferente das afirmações dogmáticas contidas no Novo Testamento! Muito ficamos devendo, sem dúvida, ao cientista Charles Darwin (1.809-1.852) e ao darwinismo, sua nova ciência, soberana e sistematizada, e ainda hoje acompanhada bem de perto pelos estudos da Craneologia e da Evolução do Sistema Nervoso, ambas reveladoras das nossas mais remotas estruturas, uma vez que não existe vida sem ser organizada pelo maestro de todos os aparelhos biológicos: o sistema nervoso central.
Mas, retornando ao tema, e quanto ao problema do Mal? Devemos inocentar ou condenar Deus? Seguramente inocentá-lo, pois, graças à Religião dos Espíritos, ficamos sabendo da inexistência do fatalismo divino, do tipo “um nascerá saudável, mas o outro nascerá doente”, porquanto, se Deus é bom, como vimos acima, então a realidade espiritual não pode dar ensejo nem aos anjos assustadores nem as demônios apavorantes.
O Mal deriva de nós mesmos, do mau uso de nossa liberdade, mau uso que nos exigirá novo resgate moral em reencarnação posterior. Assim posto, de nada devemos nos queixar com relação às nossas provas, pois, se o espírito é verdadeiramente espírito, então jamais poderá a ignorância da inconsciência ao escolher passar pela sua pele as mesmas dores impostas às peles alheias. Nossa gratidão ao “Evangelho Segundo o Espiritismo” (1.864), obra magistral kardeciana, atualmente completando 150 anos, por unir a razão à fé.
Amigos leitores: se Deus é bom, abandonemos definitivamente as nossas posições de vítimas porque jamais seremos punidos.