O ANÚNCIO

NOVEMBRO/2015 – Joel Fernandes é Médium e Filósofo

O Novo Testamento é, realmente, curioso, além de ser instigante à curiosidade. Senão, vejamos apenas um tópico, devido ao nosso espaço ser exíguo: o tópico do “consolador”. O que é? Quem falou dele pela primeira vez? E já aconteceu, tornando-se real? Eis as questões advindas após o seu anúncio.
Foi Jesus quem, ao anunciá-lo, apresentou-nos, imediatamente, o que este seria, bem como a sua finalidade: “um outro consolador”, cujas diferenças, em relação ao primeiro, ou seja, ao trazido por Jesus, seria a de  ficar conosco, para sempre; que ele – o  “consolador” –, já era o Espírito da Verdade, mas, entretanto, o mundo não o podia receber por não o ver nem o conhecer; que vós – os apóstolos e, talvez, mais alguns ouvintes – o conheceis, porque ele habita convosco e estará em vós. E ainda: “Não vos deixarei órfãos, voltarei para vós outros”. Consequentemente, tal “consolador” relaciona-se fortemente ao Mestre de Cafarnaum. 
Todavia, não podemos deixar de ver que os nossos entendimentos, assim como os de todos os seus seguidores apostólicos, tornaram-se obscurecidos por carecerem de informações determinantes da natureza daquele novo ser prometido, pois, quanto à sua vinda, isso estava bem mais do que certo, na medida em que o Pai, ou o próprio Deus, o concederia, contudo, não obstante: afinal, o que é o “consolador”, ou em Grego,“paráclito”, termo de características tipicamente joaninas, ou seja, tipicamente utilizado apenas pelo evangelista? 
Trata-se dum ser ativo, conciliador, apaziguador, auxiliador, socorredor, e protetor, portanto, tem que ser gente e homem, pois, ao fim, não teria que ser o “Espírito da Verdade”? E, curioso, o paráclito não seria o substituto de Jesus, mas sim o seu continuador, porquanto os doze já tinham conhecimento dele por este já habitar neles e, agora colocando o verbo no futuro, “estará em vós”. Mas, na verdade, eles o desconheciam! 
Nesta altura, o que você responderia à sua mãe, por exemplo, sobre tão enigmático discurso e, em consonância, indecifrável? Seriam necessários mais dados a vir do Cristo. Mas somente em Jo 14:26 ele adiantou novos subsídios: “…, esse (consolador) vos ensinará todas as cousas e vos fará lembrar de tudo o que vos tenho dito”. Significaria isto que os doze se esqueceriam todos, numa unicidade improvável? Mas exatamente o quê os faria esquecer de absolutamente tudo? E fico a imaginar as perplexidades daquelas almas boníssimas, porém, ainda, profundamente emocionais e ignorantes. E o conceito do tema, incompleto ainda, redundaria, por necessidade, em Jo 15:26: “, … esse (consolador) dará testemunho de mim”. E isto suscitou a comunidade dos seguidores que se perguntou: como assim, se nós vos vemos, mas, quanto ao consolador, por ser invisível, sequer o percebemos? A tensão oriunda daquela perplexidade inicial aumentava, porque o texto parecia espraiar-se na inteligência do Cristo, mas, ao invés, não acontecia o mesmo nas deles, faltando-lhes  uma definição clara. Ora, se já estava com eles, então quem seria, não obstante não conhecerem o“consolador”? Morreriam sem chegar a descobri-lo? Não, Jesus não permitiria, visto isso acabar por se constituir em brincadeira de péssimo gosto. 
Em Jo 16:7, o tema regressou: “Mas eu vos digo a verdade: convêm-vos que eu vá, porque se eu não for, o Consolador não virá para vós outros; se, porém, eu for, eu vô-lo enviarei”. E aqui foi posta uma outra condição: a do Mestre ter que ir para o outro Consolador surgir. E em Jo 16:8, foi escrito:“Quando ele (o Consolador) vier, convencerá o mundo do pecado, da justiça, e do juízo”. Seguiram-se a estes os versículos nove, dez, e onze, culminando no doze: “Tenho ainda muito que vos dizer, mas vós não o podeis suportar agora”; e no treze: “Quando vier, porém, o Espírito de Verdade, ele vos guiará a toda verdade; porque não falará por si mesmo, mas dirá tudo o que tiver ouvido e vos anunciará as cousas que hão de vir”; e no catorze: “Ele (o consolador) me glorificará porque há de receber do que é meu, e vô-lo há de anunciar”.
Mas os séculos, ininterruptamente, deslizaram sem nada ocorrer referente ao assunto, desencarnando todos quantos viram o Rabi galileu nô-no prometer. Teria Jesus se enganado? 
Não! Apenas em 15 de abril de 1.864 aquele mistério seria desvendado pelo Espiritismo, doutrina inimaginável à época romana, pois, no Prefácio d’“O Evangelho Segundo o Espiritismo”, sua mensagem, belíssima pelo consolo excelso que nos foi trazido, foi assinada alguém impensável à época, constituindo-se numa nova revelação: “O Espírito Verdade”
O descortínio intelectual de Jesus havia se antecipado à doutrina da Terceira Revelação, ou do Novíssimo Testamento.

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