O PERISPÍRITO – II

Fevereiro/2.014 – Joel Fernandes é médium e filósofo

       Se fôssemos questionados sobre a possibilidade duma única palavra poder definir o Espiritismo, então responderíamos “perispírito”, porquanto toda fenomenologia espirítica assenta-se sobre ele, o corpo espiritual. Ciência, Filosofia, e Religião, ainda não interdialogam apenas por desconhecerem sua função, imprescindível, na economia corpo-alma, pois é o seu mediador; e como os espíritos nos aparecem com suas fisionomias personalísticas, ele é o responsável por suas identidades. Daí o perispírito ser necessariamente inerente ao espírito e, como este, imperecível também. E mais: caso não fosse um duplo do corpo carnal, como poderíamos nos reconhecer na Espiritualidade? Impossível! Logo, dependemos dele para existir “lá” como seres individuados. Simples assim. Um exemplo e, esse, universal, logo, irretocável: as pessoas desencarnadas com as quais sonhamos se nos apresentam com seus corpos perispirituais idênticos aos que possuíam antes de morrer.

       Sua matéria, de natureza quintessenciada, não sofre ação do fogo nem pode ser aprisionada num cofre forte, porquanto tudo supera por ser infinitamente mais leve que o hidrogênio, tornando-se assim imponderável aos nossos instrumentos mais avançados. Ele é vital por ser dotado duma fisiologia própria, todavia não se reproduz, não obstante possuir nossos mesmos implementos fisiológicos. Ele é a fôrma do nosso corpo e este é, em tudo, sua cópia mais densificada. Ele reflete em si, por ser extremamente sensível à mente pensante, nossas infindáveis emoções-paixões bem como o único sentimento, o amor, tornando alterável sua forma, pois, tal como nosso corpo carnal, é identicamente plástico. Eis o motivo pelo qual nada nos fica em secreto no mundo espiritual; e alguns, por isso, denominam-no “corpo emocional”.

       Ele é fundamental nos fatos da mediunidade por se interpenetrar com os fluidos expandidos dos períspiritos dos médiuns e, cumpre ressaltar, o espírito permanece com a forma reencarnatória que mais lhe marcou o psiquismo. Quanto mais evoluído em moral e conhecimento é o espírito, mais seu perispírito se sutiliza, evoluindo simultaneamente e tornando suas partículas celulares cada vez mais velozes e, logicamente, muitíssimo mais energizadas segundo a fórmula “E=hv” (E=energia; h=comprimento de onda; e v=frequência) – uma lei da matéria – na medida em que tudo no universo vibra sob o modo de onda eletromagnética, nisto incluído, é claro, a consciência pensante.

      O notável Paulo de Tarso referiu-o como “corpo espiritual indestrutível-incorruptível” (1 Co 15:44 e 53), e podemos mesmo afirmar ser o perispírito uma formação do fluido universal – essência da matéria – em torno dum foco de consciência. Sendo mais ou menos tênue, então os espíritos são-nos invisíveis, e os superiores também são-nos aos inferiores. Todavia podem se condensar e mostrarem-se a nós e a eles, caso não tão anormal assim porquanto muitas pessoas – até crianças – viram-nos e tocaram-nos. Um exemplo clássico aceito por todos: Jesus, nos quarenta dias que passou materializado entre os judeus, após sua desencarnação, exibia, inclusive, as chagas de seus sofrimentos (Jo 20:24-29) em seu perispírito

       O perispírito é, para os espíritos, tão material quanto a matéria o é para nós, o que nos fez estranhar, nos recuados idos de nossa formação espiritista, como os espíritos atrasados duvidavam de suas desencarnações. É com ele que os espíritos sentem, falam, cheiram, veem, ouvem, pensam, memorizam, têm vontades, e expressam-se, tais como eram quando viviam entre nós, a fim de serem identificados como poetas, filósofos, historiadores, médicos, engenheiros, encanadores, braçais, colonos, radialistas, ajudantes, enfermeiros, …, em suas situações de sofrimentos, felicidades, humildades, orgulhos, etc. E é ele ainda que faz o tráfego das informações colhidas pelos cinco sentidos ao espírito que, assim, pode conhecer o mundo, tanto quanto é ele que transmite ao sistema nervoso central as ordens emanadas do espírito ao corpo.

        O perispírito é o responsável pela base científica do Espiritismo, e o seu conhecimento foi a chave da explicação duma imensidade de fenômenos que permitiram à ciência espírita dar esse largo passo: o de lhe tirar todo cunho de “maravilhosa”.

       Allan Kardec nos deixou um excelente retrato desse corpo espiritual em seu belo livro “A Gênese”. Vale a pena conferir. 

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