O XVII

MARÇO/2015 – Joel Fernandes é Médium e Filósofo

     Dentre os opositores do  Espiritismo, Allan Kardec destaca uma categoria de número avantajado – não obstante, hoje, aquela doutrina haver sido considerada, pelo Censo 2.000-2.010, como a religião mais crescente: 47%! 

     Bem, estou falando dos duvidosos, ou filosoficamente, dos céticos, e estes, é sempre bom sermos advertidos, não duvidam pelo único prazer de duvidar, mas sim por “tudo examinar atentamente”, tornando-se, desse modo, companheiros ótimos para os debates por estarem isentos de julgamentos “a priori”, críticas preconceituosas, e dogmatismos religiosos ultrapassados, todos universalmente prejudiciais. 

      Aliás, duvidar jamais foi proibição, pois somente após o atritar da dúvida dar-se-á o surgimento da luz do conhecimento e, igualmente, no tocante à Doutrina Espírita o cético também possui um conhecimento incompleto dos fatos espirituais, mesmo quando, num ato de exacerbação do entendimento, decide cortar o assunto como se o conhecesse a fundo, porquanto, apesar de seu muito atilamento acadêmico, carece d’algo imprescindível: bom senso. E isso extraído dele mesmo, se considerarmos que o primeiro indício requerido para não se ter “bom senso” é o de se crer infalível o seu juízo. Esse debate intelectual, imperdível, por sinal, é saudável e se encontra na“Introdução ao Estudo da Doutrina Espírita” (IEDE). 

     Entretanto, além desse contingente pessimista por interesse e por desconhecimento incompleto dos fatos, há ainda outro a enquadrar muita gente para as quais aquelas manifestações espíritas são apenas objetos de curiosidade, como, por exemplo, um espetáculo mágico, pouco lhe importando duvidar se há ou não espíritos, algo jamais levado a sério: são os indiferentes. Neste grupo não existe interesse em se aprofundar nas causas do fenômeno, permanecendo apenas nos seus efeitos, mas, mesmo assim, Kardec nutre a esperança de convencê-los do contrário a partir daquela IEDE. Considera que tais categorias poderão encontrar algo mais do que simples brincadeiras de salão nas quais as mesas dançavam, pois relataram-nos os fatos, notáveis, das comunicações mediúnicas das almas imortais e, em suma, como pensam e como vivem. 

    Foi para desvendar o mistério do pós-morte que Kardec escreveu aquela longa Introdução e, não temendo os sábios, informou-os ainda da expressão “ciência espírita” por esta haver resistido aos ataques das Filosofia, Ciência, e Religião, considerando que, em seu primeiro momento, o Espiritismo é a ciência dum conjunto de fenômenos físicos inexplicados, os dos Espíritos, todavia as suas causas devem ser encontradas pelos estudo e experiência. Obviamente não se acha em pé de igualdade com as demais ciências por todas estas serem materialistas, crendo apenas no que existe a partir do berço ao túmulo, todavia sua metodologia é idêntica: fundada num saber rigoroso e metódico, partido das observação e experimentação; ser suscetível duma aplicação prática; ser autônoma; ser capaz de descrever uma série de fenômenos físicos, morais, e religiosos, até hoje tidos por ininteligíveis; e poder ser comprovada. Trata-se duma religião simples, harmônica, e coerente, visto seus eventos se encadearem de modo lógico.

     A  “ciência espírita” se afasta da simples teoria baseada em fé ingênua por não se achar descolada dos fenômenos naturais-reais, mas, antes, ligar-se a um grupo de ocorrências existentes no mundo desde todas as épocas, independentemente de sua não aceitação pelas academias por estas não lhe terem, ainda, compreendido suas leis.  

     Como toda e qualquer ciência, o Espiritismo compreende duas partes: 

1ª) “Experimental”, com respeito às manifestações físicas, no geral; e 
2ª) “Filosófica”, na qual se encontra a causa inteligente do fenômeno espiritual. Nesta segunda a “ciência espírita” se afasta de qualquer ciência mecânica para não se confundir com causas repousadas na matéria, força, e movimento. 

     Ao seu objetor decorre ser necessário observá-las simultaneamente a fim de não confundi-la com o que conhece da Física em suas experiências recreativas-luminosas, sem haver, contudo, penetrado em seu âmago, isto é, conhece-la em seus princípios causais, os Espíritos, e em seus princípios formais, suas leis, a regerem, respectivamente, suas atuações-intervenções no mundo físico e no mundo moral.

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