JUNHO/2.014 – Joel Fernandes é médium e filósofo
Você os tem? Então aceite os meus “parabéns” bem como os meus votos de “bem-vindo à raça humana”, pois ter problemas é apenas outra das nossas características, dentre as inúmeras que temos de modo permanente e, por isso mesmo, quase essencial como as categorias de “animal” e “racional”, segundo a classificação do filósofo Aristóteles de Estagira (384-322 a.C.). Assim sendo, “quem poderia deixar de tê-los?”, talvez me fosse o melhor modo de perguntar. Têm-nos os pobres-miseráveis-indigentes-desvalidos, mas também os ricos-bilionários, diretores, funcionários, namorados, esposos, bisavós, presidentes, magistrados, religiosos de profissão, e até mesmo as nações. Ter problemas tornou-se inevitável, fatal e, posto não saírem das nossas vidas, tornaram-se partes constitutivas delas como se fossem “uma segunda pele”. Quando conseguimos erradicar um, eis surgidos mais 10!
Alguns, talvez a maioria deles, nós mesmos os criamos devido aos nossos desleixos, pois, como negar, somos invigilantes, imprudentes, negligentes, e imprevidentes, somos geradores de prejuízos que poderíamos ter evitado já que ainda nos faltam, certamente, as virtudes prudência e previsão. Mas, ao lado desses problemas, há outros tipos impossíveis de serem previstos, como os desastres naturais dum vendaval, vulcão em erupção, maremoto, colisão, bala perdida, acidentes, epidemias, e por aí vai. Então a questão agora colocada é: para que nos servem os problemas? Caso fosse possível crer e compreender “ao pé da letra” o Antigo Testamento como se fosse um livro veraz, então garantiríamos que nem Deus conseguiu se libertar deles, a começar pela dificuldade de não haver conseguido criar o mundo num átimo de tempo, mas em 6 dias, quedando-se exausto – mais um problema – pelo esforço, supremo, despendido. E como se tal não fosse suficiente, eis que Suas criaturas pensantes começaram a Lhe gerar mais problemas logo em seus inícios como viventes, levando-O a tomar severíssimas providências perpetuadas até hoje, sendo a pior delas a mortalidade do primeiro casal. E mesmo nós, seus descendentes, os quais nenhuma participação tivemos naquele “pecado original” por ainda não existirmos, também fomos condenados ao desaparecimento! É uma justiça incomum e absurda, sabemos, mas o que fazer com um Deus assim? E para Lhe complicar ainda mais, somos promotores de guerras, violências urbanas, sequestros, estupros, impudicícias, mentiras, adultérios, abortos, etc., numa intérmina lista de tragédias tão longa quanto nossas paixões as quais sempre nos foram fontes de mais e novos problemas, como as doenças mentais, psicológicas-emocionais-comportamentais, físicas, e espirituais. Até onde o homem pretende chegar para produzir o quê ao cometer tantas e tamanhas barbaridades ao plantar e fazer nascer mais problemas?
Os problemas são intoleráveis, insuportáveis, tristes, desequilibrantes, aflitivos, e traumáticos, acabando por nos matar ou mais cedo ou um pouco mais tarde. E se o homem, na maioria das vezes é o seu próprio tormento, então, conforme afirmava o filósofo inglês Thomas Hobbes (1.588-1.679): “O homem é o lobo do homem”. Nossos desejos desenfreados e desobedientes a quaisquer limites éticos completam-nos animalescamente, de modo que jamais fomos cidadãos por jamais havermos sido educados, disso originando-se as leis civis coercitivas, no aqui e agora, e as de Deus, no Além, a engendrar novas punições às almas-problemas. Daí: “problemas”, quando não mais os teremos?
Debruçado sobre essa questão aparentemente simples por ser geral, porém simultaneamente complexa por não desaparecer, pareceu-me haver encontrado a resposta graças aos ensinos dos Espíritos superiores responsáveis pela Doutrina Espírita: ame! Sim, ame, porém, em primeiro lugar ame-se em vez de amar as coisas, invertendo igualmente sua relação com elas, não sendo mais você para as coisas mas sim as coisas para você, rompendo assim com essa escravidão do consumo porquanto recoloca o ser desejante no centro da questão por ser você o ser de vontade livre e, por isso, o responsável único por sua vida e tudo quanto o cerca. E se a vontade é realmente livre, então os problemas-tragédias não estão nas coisas, nem nos outros, nem na natureza, nem em Deus, conduzindo-nos assim à consequência exclusiva de apenas existir um ser capaz de nos prejudicar: nós mesmos! Não é incrível isto? Se nos amássemos, jamais ambicionaríamos o mal contra nós mesmos por ser um absurdo desejarmos nossa autoaniquilação, pois desde antes até agora e no futuro aspiramos e aspiraremos ser felizes. Conscientize-se disto para ser o agente de atitudes seguras e se libertar deles.
Nossos problemas reduzem-se a nós mesmos, seus causadores, pois, ao fim e ao cabo, somos nós quem não nos amamos. Consequentemente amemos para sermos felizes. Ame, mas ame muito, como nos designa o primeiro mandamento (Mt 22:37) e desfrute, enfim, da felicidade.