NOVEMBRO/2.014 – Joel Fernandes é Médium e Filósofo
Não apenas poderá lhe parecer estranho como, em verdade, ainda o é e será por muito tempo, todavia não deveria sê-lo. Falo-lhe dela, da famigerada, da abominável, e da execrada, morte, morte que, de tão temida, poucos falam sem temor e, pasme, leitor, sem, às vezes, adentrar no mundo do pânico.
Estes muitos, curiosa e estranhamente, são os frequentadores dos templos religiosos e, consequentemente, são os que menos dúvidas deveriam possuir sobre o mais fascinante, intrigante, e fascinante, dentre todos os temas de nossas vidas quando, considerando o fato de, desejando-a ou não, todos iremos conhecê-la. As exceções ficam, como sempre, com os céticos, os pensadores livres, os bons ledores, e os profissionais da área biomédica. Fico a pensar se, talvez, as existências de todos os templos religiosos não possuam outros motivos a mais senão apenas um, o medo da morte! Afinal o que haverá para além do túmulo, nossa última morada e, infeliz e completamente, totalmente desconhecido? E quando ocorre do tema surgir – algo raro, por sinal –, ei-lo apenas durante os funerais de outrem e, assim mesmo, sem maiores indagações filosóficas e teológicas para, de pronto, desaparecer do grupo falante com a velocidade duma estrela cadente.
Ainda estou para descobrir aquele homem simples porque dela discursa sem quaisquer desequilíbrios emocionais e, por isso mesmo, não posso me furtar de observar os comentários judaicos, muçulmanos, cristãos – católicos, ortodoxos, protestantes, e anglicanos –, em suma, dos componentes do nominado “mundo teísta”, para os quais o fenômeno “morte” é sempre falado aos sussurros, com um respeito incomensurável, mas isso apenas por ser tão incompreensível, como se ela não fosse um fenômeno comum, e tão comum que se encontra logo e imediatamente aqui, debaixo dos nossos narizes, posto ocorrer continuamente. Sim, vemos os termos das vidas de tudo quanto um dia viveu, mas, à guisa de autoproteção, pensamos: “ora, deixemos isso para lá, pois, quando tal destruição vier, apenas os nossos vizinhos serão pegos”. Entretanto tal modo de pensar e agir constitui-se em distorção séria, na medida em que tememos “o destino” para o qual todos, sem exceção, já nascemos fadados!
A morte é uma lei e, como tal, inevitável, e mesmo que não o fosse, quero dizer, sem ou com o nosso consentimento, um dia virá nos buscar. Mas, provavelmente mesmo por ser uma lei, logo, algo natural, deixamos, irracional e lastimavelmente, de lhe fixar nossa atenção intelectual em saber como ela se apresenta e como se desenvolve no universo, o que acaba por nos desnaturar como seres humanos, únicos representantes do pensamento reto no mundo.
Mas, ao invés, há exatamente 229 anos, em 1.785, o jovem e sábio “Pai da Química Moderna”, Antoine Laurent de Lavoisier (1.743-1.794), sentenciara: “na natureza nada se cria, nada se perde, tudo se transforma”, uma sentença de conteúdo matematicamente preciso ao descobrir a Lei de Conservação das Massas num sistema fechado. Entretanto se tornou vergonhoso aos crentes em Deus que ela tenha surgido dum cientista que deu a seguinte resposta a Napoleão I quando foi por este indagado: “E onde fica Deus nesta descoberta?”. Resposta: “Deus não é uma hipótese necessária, pois não se pode criar algo do nada nem transformar algo em nada, e tudo quanto existe provém de matéria preexistente, só que em outra forma, assim como tudo o que se consome passa a adotar outra”.
Conclusão: como alguém pode pretender lutar contra a Ciência que possibilita ao outro obter, conosco, o mesmo resultado em qualquer lugar e em qualquer momento? Apenas um insano se atreveria a tanto, porquanto na área mesma do nosso tema, a religiosa, quais dados honestos possuímos? Nenhum, mas, ao revés, histórias demasiadas sem jamais qualquer uma nos haver conduzido a conhecimento algum. Por isso a Filosofia Espírita reescreveria, em 1.857, n’“O Livro dos Espíritos”: “Nascer, viver, morrer, renascer ainda, progredir sempre, tal é a lei”, matando a morte mas sem matar a vida por esta ser eterna, boa, colorida, e que aqui nos encontramos para consolidar nossa perfeição moral. E agora, perdeu o medo?